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Os 500 anos do catolicismo nas Filipinas
A Igreja nas Filipinas está no meio de uma “jornada de nove anos para a Nova Evangelização”. A celebração está em preparação para o 500º aniversário da chegada do cristianismo nas Filipinas, que será festejado em 2021.
A cada ano até 2021 há um tema diferente. 2019 é o Ano da Juventude. O último ano vai comemorar a missio ad gentes, ou missão às nações. Na verdade, os filipinos que partiram de casa e se estabeleceram em outras terras trouxeram consigo uma cultura muito católica.
De acordo com o jornal Inquirer, a América do Norte acolhe a maior porcentagem de filipinos no exterior, com cerca de 3,5 milhões de filipinos nos Estados Unidos e 721.000 no Canadá.
Há “força nos números”, como diz o velho ditado, mas para muitos filipinos, a força real que os conduz através de suas experiências de imigrantes é a família e a fé.
“Para o filipino, a família é a principal fonte de identidade. Nossas famílias determinam quem somos. Eu sei o meu lugar no mundo por causa da minha família”, disse o padre dominicano Nicanor Austriaco, professor de biologia e teologia no Providence College em Rhode Island.
“Isso é radicalmente diferente do jeito americano; para um filipino, é dada uma identidade principalmente através dos laços familiares. E eu acho que é uma luta, às vezes, porque os filipinos têm um forte senso em família, e a cultura americana não enfatiza tanto isso”.
A Igreja, no entanto – e a grande maioria dos filipinos é católica – ajuda a lembrar aos imigrantes a importância de fazer parte de uma família. “A Igreja sempre diz que somos a família de Deus e que nossa identidade primária deve estar lá: eu sou o filho amado do Pai”, disse Pe. Austriaco em uma entrevista.
“Os filipinos são assim: quando você ora, você não diz Deus, mas Papa Deus e Mama Maria e Kuya Jesus. Kuya significa irmão mais velho. Tudo é sempre visto através das lentes da relação familiar que constitui sua identidade”.
Mas a família não está restrita a parentes de primeiro grau, como Pe. Leo Patalinghug atesta.
“O que os filipinos defendem é um senso de família, um senso de fé e um senso de lazer”, disse o Pe. Patalinghug, que dirige o Plating Grace, um movimento para ajudar as pessoas a recuperar o senso de família através de refeições compartilhadas. “Todo mundo está conectado localmente. Eles se chamam tito e tita – tio e tia – irmão e irmã. Nós chamamos todos, em respeito, ou manoy ou manay, que são termos que significam irmão mais velho e irmã mais velha, mesmo que você não esteja necessariamente vinculado a eles”.
Crescendo em uma família de imigrantes em Maryland, onde seu pai veio para trabalhar como médico, o Pe. Patalinghug se lembra das maneiras em que foi educado, como beijar as mãos dos pais. O costume é conhecido como mano po.
“Você pega a mão e coloca na testa, como sinal de respeito”, disse ele. “Essa era a primeira coisa que você fazia quando entrava na casa de alguém. Foi tão estranho para mim – fazer isso na frente dos meus amigos americanos, e eles não tinham ideia do que era aquilo”.
Jennifer Pascual também lembra certas tradições. Pascual, diretora de música e organista da St. Patrick’s Cathedral em Nova York, disse que seus pais, ambos nascidos em Manila, “não eram tão tolerantes quanto os outros pais, e que a rigidez incutiu em mim uma disciplina que meus amigos não tinham”.
“Meus amigos perguntavam ‘você pode sair?’. ‘Não, meus pais não deixam’. Ou se eu fosse sair em um encontro, alguém da família tinha que estar comigo”, lembrou Pascual, que nasceu em Los Angeles e cresceu principalmente na Flórida. “O rigor que eles me ensinaram é algo que me ajudou nas minhas conquistas, sempre me esforçando”.
Mas ela também recorda a abertura que sua família tinha. “Meu pai estava sempre cozinhando, e qualquer um que aparecesse, a comida era servida”, disse ela. “Havia muita camaradagem familiar, sejam eles amigos ou parentes, as pessoas sempre vinham para as refeições”.
Pascual disse que ela realmente se sente mais filipina do que americana agora, e ela disse que visitou as Filipinas mais do que seus próprios pais voltaram para casa. Duas dessas viagens foram para participar de um festival internacional na paróquia de sua mãe, a St. Joseph’s, na seção Las Piñas de Manila, lar do mundialmente famoso “órgão de bambu”. Ela espera fazer uma gravação no órgão no próximo verão.
Como a Conferência Episcopal das Filipinas assinalou, a fé manteve a cultura filipina unida e continua a fazê-lo.
“Em face de um secularismo que em algumas partes do nosso mundo atual se tornou uma espécie de ‘religião dominante’, em face da realidade de bilhões que vivem em nosso tempo e que não encontraram verdadeiramente Jesus Cristo nem ouviram seu Evangelho, quão desafiados somos a ingressar no esforço da Nova Evangelização”, escreveram os bispos.
Os filipinos são rápidos em apontar o papel da Igreja em suas vidas. Quando os pais do Pe. Leo se estabeleceram em Maryland, eles escolheram um bairro de baixa renda porque encontraram uma casa a apenas dois quarteirões da igreja. Quando Arcie Lim deixou o tumulto político nas Filipinas na década de 1970, “uma das primeiras coisas que minha esposa fez ao chegar ao Canadá foi procurar uma igreja onde pudéssemos comparecer e nos apresentar”.
“Como novos imigrantes, este é o lugar onde nos sentimos confortáveis, bem-vindos”, disse Lim, um contador que participou ativamente dos assuntos filipinos e da Igreja em Vancouver e foi recentemente eleito para a Suprema Diretoria da Knights of Columbus.
“Nossa fé católica forneceu a esperança e a força que é tão necessária para nos ajudar em nossa nova vida em um país estrangeiro. As várias paróquias locais são o lar para muitos imigrantes que estão à procura de um sentimento de pertença, uma comunidade em que eles podem se apoiar, especialmente para os imigrantes que não têm famílias com eles. Nossa igreja é o lugar onde encontramos pessoas que podem se relacionar conosco, que são genuínas em seu desejo de ajudar e que podem fornecer apoio quando precisamos. Através dessas pessoas, amigos e parentes, eu fui capaz de me adaptar e me assimilar ao meu novo ambiente, sem sacrificar minha própria cultura e crença”.
Ao mesmo tempo, os filipinos têm muito a oferecer a uma sociedade cada vez mais secular, na estimativa do Pe. Austriaco.
“Uma das características definidoras de uma era secular, de acordo com Charles Taylor, um renomado filósofo católico, é que uma era secular é desencantada”, disse ele. “O que isso significa é que vivemos em uma época em que o material domina nossa imaginação… A alma filipina está profundamente encantada. Assim, os filipinos sentem o reino espiritual”. E isso pode ajudar a “alma secular americana a reencantar sua imaginação”.
Recentemente, por exemplo, ele levou seus alunos para uma igreja vazia. “Eu digo ‘nunca está vazia! Existem anjos lá. Digam olá para eles”, ele relatou. “Isso é tão estranho para os americanos”.
Como alguém que ensina ciência e teologia, Pe. Austriaco procura convencer os alunos de que existem mais formas de olhar para a realidade do que através de observação científica.
“Na minha aula de fé e razão, eu gasto uma semana inteira falando sobre anjos”, disse ele. “Se uma cosmovisão científica é uma cosmovisão que está em busca da verdade, então uma cosmovisão científica que só pode ver a matéria é altamente truncada e estripada, porque não pode ver a plenitude. Então, digo aos meus alunos: ‘O empreendimento científico só pode lidar com matéria e forças, mas se você, como cientista, acredita que precisa procurar a verdade, então precisa estar aberto a realidades da criação que não podem ser passíveis de experimentação, mas de um encontro pessoal”. “Acho que um filipino sabe disso intuitivamente”.
Por: John Burger
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